segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O prazer animal

Dois lêmures de cauda anelada -possivelmente um casal, possivelmente dois sujeitos curtindo o calor- estão reclinados lado a lado.

Suas barrigas brancas estão expostas, seus pés, largados, para garantir total exposição ao sol do Madagascar.
Para completar o quadro, eles só precisariam de charutos. Essa postura tem uma explicação evolutiva. Cientistas empregam "regulação térmica comportamental" para explicar como um animal conserva sua temperatura corporal central. Mas, como explica o especialista em comportamento animal Jonathan Balcombe em "The Exultant Ark" (a arca exultante), sobre o prazer dos animais, está claro que os lêmures também estão curtindo um prazer.
Como indica o subtítulo do livro, "um passeio pictórico pelo prazer animal", "The Exultant Ark" traz fotos surpreendentes, engraçadas, comoventes e tristes de fotógrafos de todo o mundo. O texto de Balcombe é um estudo sério sobre o tema do prazer dos animais. Para começar, o prazer é adaptativo: assim como "a dor desencoraja os animais de fazer coisas que resultem no risco de ferimentos ou morte, que não são resultados bons no processo evolutivo", ele escreve, o prazer "é a maneira usada pela natureza para aumentar as chances de sobrevivência e a produção reprodutiva".
Em segundo lugar, sabemos que o prazer existe em pelo menos uma espécie animal: a humana. Balcombe argumenta que os animais podem experimentar "formas de prazer inacessíveis aos humanos". O terceiro argumento é simples: que os animais são equipados para sentir prazer. Como sabemos que os animais sentem dor, por que não sentiriam prazer?
O sexo é um prazer que, nos humanos, tem alguns aspectos não ligados à procriação. Mas Balcombe demonstra que isso também se aplica ao mundo animal. Um exemplo especialmente sensual é o de um par de peixes-bois machos que se abraçam "com o pênis de cada um na boca do outro".
Os animais exibem comportamentos que aparentam ser de prazer e para os quais não existe explicação evolutiva. Já vimos gaivotas ou corvos que fazem mergulhos vertiginosos em direção ao chão, voltando a subir no último minuto. "Esse comportamento não tem função evidente para a sobrevivência", escreve Balcombe, "fato que me leva a indagar se eles não o fazem pela emoção da velocidade."
De vez em quando, Balcombe parece derivar para demasiado perto da suposição antropomórfica. Refletindo sobre uma foto de um filhote de águia-pesqueira, ele escreve: "Imagino que as sensações sejam semelhantes" às de um humano "que se lança de um ninho nas alturas", algo "emocionante e apavorante".
Em sua conclusão, Balcombe argumenta que a capacidade que um animal possui de sentir prazer é um fator importante a ser levado em conta na discussão dos direitos dos animais. "O fator decisivo real quando se analisa se um ser merece ou não respeito e compaixão é a capacidade de sentir", ele escreve.

Por Katherine Bouton

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Fonte: The New York Times, 01 de agosto de 2011

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