sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Papiro 115 – Quando a Besta Trocou de Número

Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis. – Apocalipse 13:18

Há séculos cristãos vem tentando descobrir a quem (ou ao que) esse número se refere. A aposta historicamente mais segura seria de que se trata de Nero, notável algoz dos cristãos romanos. Porém, a interpretação varia muito entre as seitas cristãs, com destaque para as Testemunhas de Jeová e os Adventistas (estes últimos consideram o papado como a Besta).

Contudo, a descoberta do P115 no séc. XIX e tornado legível em 2005 pela universidade de Oxford através de uma nova tecnologia de imageamento, joga no lixo as mais imaginosas interpretações e cálculos baseados no número 666.


Papiro 115
A seta indica onde se encontra o número. Esse é o fragmento mais antigo até agora encontrado do livro de Apocalipse, datando do séc. III. Há estudiosos do assunto, como David C. Parker e Ellen Aitken, que defendem essa variante como sendo o número original. O número 616 também aparece no Codex Ephraemi Rescriptus e em uma versão Armênia.
O número 616 ainda continuaria historicamente bem ajustado: seria o imperador Calígula, que não era nada amigável e tentou erigir uma estátua em sua adoração no templo de Jesusalém.
Apesar de haver bons argumentos em favor no número tradicional, o fato é que ficamos longe de poder ter confiança de que é o número correto.

E essa não é a unica variante do numero:
εξακοσιοι εξηκοντα εξ (666) – grande maioria dos manuscritos
χξς (666) – Papiro 47, Uncial 051
εξακοσιοι τεσσαρακοντα εξ (646) - Itar
εξακοσιοι δεκα εξ (616) – Codex Ephraemi Rescriptus
εξακοσιοι εξηκοντα πεντε (665) – manuscrito 2344
χις (616) Papiro 115


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Fonte: http://andreafreitas.wordpress.com/

O Mito do Apocalipse



“A palavra apocalipse, do grego αποκάλυψις (termo primeiramente usado por F. Lücke) (1832) significa, em grego, “Revelação”. Um “apocalipse”, na terminologia do judaísmo e do cristianismo, é a revelação divina de coisas que até então permaneciam secretas a um profeta escolhido por Deus. Por extensão, passou-se a designar de “apocalipse” aos relatos escritos dessas revelações.” [Wikipédia]

Para os cristãos, o livro possui a previsão dos últimos acontecimentos antes, durante e após o retorno do Messias de Deus. Alguns Protestantes e Católicos entendem que os acontecimentos previstos no livro já teriam começado.
Exegetas católicos e protestantes atribuem a sua autoria a João, o mesmo autor do Evangelho Segundo João, conforme o descrito no próprio livro: Ap 1.9-11. Entretanto, correntes há que acreditam que o João mencionado aqui (João de Patmos) é outro indivíduo, diferente do apóstolo João.
O começo do fim do mundo, diz João, será anunciado por sinais tenebrosos: um céu negro, uma lua cor de sangue, estrelas desabando sobre a Terra e uma sucessão de desastres varrendo o planeta na forma de terremotos, inundações, incêndios, epidemias. O Anticristo então dominará a Terra por sete anos, ao fim dos quais Jesus Cristo descerá dos céus com um exército de santos e mártires – e vencerá Satã, a besta. Depois de 1 000 anos acorrentado, Satã conseguirá se libertar e forçará Jesus Cristo a travar uma segunda batalha, a terrível batalha do Armagedom. Derrotado Satã, todos nós, vivos e mortos, nos sentaremos no banco dos réus do tribunal divino. Os bons irão para o paraíso celestial. Os maus arderão no fogo eterno.


NO PASSADO

Depois de canonizado, o livro de Apocalipse foi banido e passou cerca de quatro décadas fora do cânone. Segundo [Gondim, 2005]: “pessoas passaram a vida inteira acreditando que o Livro do Apocalipse não era inspirado, porque assim disse um concílio. Quem estava certo, aqueles cristãos ou os cristãos posteriores, que acreditam na santidade do Apocalipse por causa de outro concílio?”




AS VÁRIAS INTERPRETAÇÕES

A maior parte do livro é escrita em linguagem simbólica, e, por isso, dá margem a diversas interpretações pelos diversos segmentos cristãos. A razão dessas inúmeras tentativas de interpretar o livro de Apocalipse é devido à crença na suposta volta de Cristo [Tg 5.8; I Pe 4.7] que não aconteceu!
Dentre as principais interpretações, temos:
a) Preterista – Considera as visões e acontecimentos pertencentes às últimas décadas do século I.
b) Historicista – O Apocalipse contem visões que revelam com antecedência momentos importantes da história humana dos dias de Roma ao final deste atual século.
c) Futurista – Vê o Apocalipse como uma profecia relacionada ao desenlace da história que diz respeito à Igreja no mundo.
d) Dispensacionalista – Pressupõe dois diferentes povos de Deus: Israel e a igreja; e dois programas de profecias.
e) Espiritualista – Encontra poucas referências no Apocalipse sobre acontecimentos específicos ou pessoas do passado, presente ou futuro.
Segundo o comentário da Bíblia de Jerusalém, “o texto de Apocalipse apresenta certo número de duplicatas, de cortes na seqüência das visões e de passagens aparentemente fora do contexto. Os comentadores tentaram explicar essas anormalidades de múltiplas maneiras: compilação de fontes diferentes, deslocamento acidental de certas passagens ou capítulos, etc. Entre as explicações possíveis, propomos a seguinte hipótese.
A parte propriamente profética (Ap 4-22) parece ser composta de dois Apocalípses distintos, escritos pelo mesmo autor em datas diferentes, e depois unidos num só texto por outra mão. [...] Quanto às cartas às sete Igrejas (1-3), embora destinadas a serem lidas junto com os outros dois textos, devem ter existido primeiro na condição de texto separado.” [A Bíblia de Jerusalém, pp. 2.299-2.2300]
Curioso é que essas cartas só foram endereçadas às sete igrejas existentes na época, porém devido ao não cumprimento da Volta de Cristo, os líderes cristãos trazem  a mensagem de João [de uma forma alienada] para as igrejas atuais. Mas para “cobrar” obediência e boas obras às igrejas atuais, seria necessário uma biblioteca inteira de livros apocalípticos e não um pequenino livro de 22 capítulos.

SOBRE O TEMPO DAS PROFECIAS

Para João, todas as coisas vistas iriam acontecer ainda naquela época, tendo em vista os termos e datas empregados por ele ao descrevê-las:
a) Ap 1.1 – “…Coisas que brevemente hão de acontecer!” [ I Pe 4.7; Tg 5.8]
Teólogos afirmam cegamente que as coisas reveladas não iam acontecer logo na época em que foi escrito o livro de Apocalipse, devido à sua crença na suposta volta de Cristo: Ap 1.7 e 22.10.

Para saber mais sobre o mito da volta de Cristo, Clique aqui!
b) 1.3 – “O tempo está próximo!”
Imagine você sendo membro de uma daquelas igrejas as quais João escreveu e o seu pastor lendo uma carta contendo revelações de Deus e afirmando que o tempo estaria próximo. O que você pensaria: que iria morrer sem ver o fim do mundo ou a tal promessa se cumpriria ainda na sua geração?
O que você pensaria se estivesse no lugar daqueles cristãos e ouvisse a frase: “tribulação de 10 dias”? [Ver cap. 2.10]
c) 1.7 – “Cristo vem com as nuvens… Todo olho o verá… Até os mesmos que o traspassaram…” [Confira Jo 19.37]
I – Todo olho o verá? Isso é possível?
Apresento a visão distorcida que os escritores bíblicos tinham da terra e céu:

[Clique na imagem para ampliá-la!]

Havia a crença entre os hebreus de que se alguém subisse num monte bem alto [o mais alto da terra], contemplaria toda a terra. Foi pensando assim que João afirmou que “todo olho” veria o retorno de Cristo.
Reforçando essa visão bíblica,  ele escreveu:
“… E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu.” [Ap 21.10]
Os escritores dos Evangelhos também tinham a mesma visão:
“Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles.” [Mt 4.8]
“E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.” [Lc 4.5]
Até no episódio da Torre de Babel, encontramos a mesma crença de que construindo uma “torre”, o homem chegaria ao céu [cfr. foto acima]. Hoje sabemos que depois de uma certa altura, há falta de oxigênio e homem não sobreviveria. Por que Deus não deixou o homem continuar com a torre até ele próprio perceber que não alcançaria o céu – como ele pensava? Para o escritor de Gênesis, Deus tinha que impedir com a confusão das línguas! [Gn 11.1-9]
Para saber mais sobre a visão bíblica da terra, [Clique aqui!]
II Quem o traspassou?  Fomos nós? Não! Em João 19.31-34 está a resposta!
d) 2.13 – Ainda nos dias de Antipas!”
Nada se sabe quem foi essa figura. Se naquela época pouco se falou sobre ele, imagine agora! Quem simbolicamente representa essa personagem nos nossos dias? O Presidente Lula? A futura presidente Dilma Rousseff?
e) 2.25 – “… e aos restantes que estão em Tiatira… Mas o que tendes retende-o até que eu venha!”
O escritor precisava ser mais claro? No Brasil temos alguma cidade chamada Tiatira? Para saber mais sobre essa cidade[Clique aqui!].
f) 6.11 – “Até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos que haviam de ser mortos como eles foram.”
Morre gente todo dia e ainda não se completou esse número?
Note o significado de “conservo”:
“Servo juntamente com outrem. Do latim conservu: Companheiro na escravidão.” [Dicionário Informal]
Será que ninguém disse aos evangélicos ainda que a escravidão já foi abolida? Em qual dessas igrejas existentes hoje encontramos escravos? E nos capítulo 6.15 e 13.16 ainda vemos o escritor fazer distinção de “todo servo e todo livre”.
g) 22.7 – “Eis que venho sem demora…”
h) 22.10 – “… porque o tempo está próximo.”
i) 22.12 – “E, eis que cedo venho…”
j) 22.20 – “… Certamente cedo venho.”

AS BESTAS

No início Satanás aparecia como o único “opositor” a Deus; mas, sem entendermos como, João revelou que ele deu “cria” e agora vemos uma trindade satânica que peleja contra os cristãos daquela época.
O sinal ou marca da besta é alvo de diversas interpretações. Existem aqueles teólogos que dizem que o sinal será literalmente posto na mão direita ou na testa, e acusam o Verichipde ser esse sinal. Outros preferem uma visão mais simbólica e interpretam que o sinal da besta na mão direita ou na testa significaria respectivamente atitudes e pensamentos segundo as intenções da besta, e contrários a Deus. Um exemplo de tal interpretação tem os adventistas, que crêem que se pode identificar o sinal da Besta identificando qual o sinal contrário, isto é, o “sinal de Deus”, que eles crêem ser a observância do sábado. Neste caso, para eles, a marca da besta seria a observância do domingo, reconhecido como dia do Senhor tanto por católicos como por protestantes. Porém correntes atuais ponderam que o sinal da Besta nada mais é que algo compreensível, que quem recebê-lo saberá exatamente o que está fazendo, pois a expressão “é número de homem”, remete a algo comum, notório a todos, pois até mesmo pessoas iletradas reconhecem números com facilidade, ao contrário da corrente que há alguns anos acusava o código de barras e agora o Verichip. Existe também a interpretação de que pode ser um número bem no centro da testa, escrito 666 (seiscentos e sessenta e seis).
Moral da história! Se você acredita em alguma dessas interpretações, você automaticamente já foi “carimbado” não com o número 666, mas com a palavra “besta” na sua testa!

A ESTRELA DA MANHÃ

Era crença comum entre os Magos, os astrólogos, os caldeus e os místicos dos países orientais da antiguidade, que quando um cometa aparecia no firmamento era sinal de que estava para nascer um líder, ou grande Avatar, que se tornaria um Salvador ou Redentor da Humanidade.
Parece-me que todo rei e/ou deuses, além de serem vistos como as estrelas, tinham ou adotavam uma estrela como símbolo de sua majestade e poder. A estrela Regulus que á mais brilhante da constelação de leão, quer dizer “pequeno rei”. Esta mesma estrela para os babilônios se chamavaSharu, que significa “rei”; e para os romanos se chamavaRex, que também quer dizer “rei”.

E não só as estrelas, mas os planetas também. O planetaJúpiter foi associado ao deus maior do Olimpo: Júpiter – deus romano e Zeus – deus grego.

Investigando a mitologia sumeriana e algumas plaquetas e quadros acádicos, temos que os “deuses” sumerianos não tinham forma humana, e correspondiam a estrelas / astros. Nos quadros acádicos, as estrelas estão reproduzidas assim como desenharíamos hoje. Seu deus supremo, Marduk correspondia a Marte. Ninurta (Sírio) era o juiz do Universo. Este pronunciava sentenças sobre os mortais. Há placas com inscrições dirigidas à Marte, Sírio e às Plêiades.
Confira alguns exemplos na Bíblia também:
a) As estrelas de Deus – reis da linhagem real de Davi – Nm 24.17
b) Rei Nabucodonosor – Is 14.12 [Aplicam também esse texto a Satanás] Cfr. II Pe 1.19.
c) Estrela de Jacó – Nm 24.17;
d) Estrela de Cristo – Mt 2.2;
e) Estrela do deus Renfã – At 7.43
O salmista também acreditava que as estrelas representavam os reis quando escreveu que “proclamavam a glória de Deus” [Sl 19.1] e que Ele as “chamava pelo seus nomes” [Sl 147.4]. Quais nomes? Aqueles dados pelos homens durante a trajetória da humanidade!
De onde mais viria esta crença?
Segundo as antigas crônicas essênias e rozacruzes, quando o Divino Infante Krishina nasceu, também foi uma brilhante estrela que anunciou seu nascimento e os Magos, imediatamente, foram homenageá-lo e adorá-lo, levando-lhe sândalo e perfumes.
Por ocasião do nascimento de Buda, uma grande estrela, que passou pelos céus, proclamou sua divindade e os sábios, de novo, foram visitá-lo em Seu lugar de nascimento, e renderam-lhe homenagens e ofereceram-lhe presentes.
O nascimento de Confúcio, em 551 a.C., foi anunciado por uma estrela muito grande, que percorreu os céus e foi observada pelos sábios, que encontraram o lugar do nascimento acompanhando o movimento do corpo celeste e, em lá chegando, tributaram homenagens ao recém-nascido. Análogas histórias são contadas a respeito de Mitra, o Salvador persa, Sócrates, Esculápio, Baco, Rômulo e inúmeros outros.
O PLANETA VÊNUS

estrela da manhã, hoje, a conhecemos como planeta Vênus! Assim, segundo Ap 1.6, Cristo nos faria reis e sacerdotes; tornando-nos merecedores dessa brilhanteestrela: Ap 2.28; ou seja, herdaríamos o mais lindo brilho dela. Que legal, não é mesmo?
É claro que eu sei que os teólogos interpretam esta passagem como se referindo a “Cristo”, a resplandecente estrela da manhã, Ap 5.5 e 22.16. Segundo eles, o próprio Cristo é a promessa, tornando os vencedores participantes do Seu Reino de Glória, II Ts 2.12 – Compare com: II Pe 1.19. Porém, isto é o que eles acreditam e não o que entendemos racionalmente!
O que você faria se ganhasse de Cristo o planeta vênus como recompensa?
NOTA: Por descrever uma órbita interior relativamente à órbita da Terra, o planeta Vênus só pode ser avistado no início da manhã ou ao final da tarde (menos freqüentemente chamada estrela da tarde ou estrela do pastor, por aparecer às horas em que este partia ou chegava com o rebanho). Em plena noite Vênus encontra-se sempre do outro lado da Terra e durante o dia a luz do Sol ofusca-nos a visão de Vênus.
O LIVRO DA VIDA
Confira o que João “viu” na sua suposta revelação e o que os cristãos daquela época chamavam de livros:

Imagine agora quantos pergaminhos desses seriam necessários para escrever os nomes de milhares de pessoas que viveram no passado [desde a fundação do mundo]; das que vivem no presente e das que virão a existir no futuro, até o “fim do mundo”?
Mesmo que o suposto livro que estava na visão de João tivesse o formato dos nossos livros atuais, ele precisaria de uma biblioteca inteira para registrar [à mão] os nomes dos escolhidos. E mais! Imaginem também o trabalho que seria “apagar” tais nomes, se os escolhidos não fossem “vencedores”, conforme a ameaça no capítulo 3 e versículo 5.

AS DUAS TESTEMUNHAS

Alguns teólogos acreditam que essas duas testemunhas representarão Moisés e Elias; outros se acham divinamente inspirados para interpretarem que serão símbolos da igreja militante que testemunha [Zc 4.1-4, 6,10,14]. A pergunta que não quer calar é: Qual das igrejas [veja relação acima] as duas testemunhas representam?
O que nos parece é que são realmente pessoas, pois os escritos do A.T. os descrevem como: remanescentes de Zorobabel e Josué [Zc 3.1- 4.14]; de Elias [1 Rs 17.1; 2 Rs 1.10] e de Moisés [Ex 7-12]. Vale à pena ressaltar também a fenomenal diferença de interpretação dos escritos do A.T. entre o judaísmo e o cristianismo.
Elas profetizarão por 1.260 dias [42 meses], estando à frente de dois grupos: judeus e gentios; terão poderes sobrenaturais como: fogo saindo de suas bocas que matará a muitos; reterão a chuva no céu; transformarão as águas em sangue e lançarão pragas – como fez Moisés – sobre toda a terra. Porém, mesmo com todos esses poderes, não serão páreos para a Besta, a qual os matará depois de uma batalha ao nível dos efeitos especiais de ‘Matrix’. Depois de três dias e meio, ressuscitarão e subirão aos céus diante de todos.
Não vejo sentido algum em dois homens [pergunto por que não duas mulheres?] – mesmo que sejam símbolos – aparecerem do “nada” para “pregarem e profetizarem” algo que todo mundo já sabe ou conhece; com poderes sobrenaturais destacando-se diante dos reles mortais [nós]; sob pena de serem mortos depois de três anos e meio pela Besta, tendo como “recompensa” a ressurreição.
Outro fato curioso é que o próprio João confunde-se no que vê, e escreve referindo-se as duas testemunhas: “seu cadáver” [11.8]; porém no versículo 9 corrige: “os cadáveres”. Não vale nem a pena transcrever o comentário que interpreta ambas as frases na Bíblia Plenitude!
Se a Besta não for um animal e sim uma representação simbólica, aí é que tudo se complica mais ainda, pois quem matará dois seres superpoderosos que dominam os elementos da terra? As forças armadas de Barack Obama?
Por que os teólogos cristãos interpretam algumas datas do apocalipse como simbólicas e outras não, como no caso dos três dias e meio que as tais “testemunhas” passarão mortas na praça? E qual é a praça? A Trafalgar Square?
Note que as testemunhas aparecerão e permanecerão na terra por três anos e meio ajudando a Besta a destruir mais ainda o meio ambiente com seus poderes; mas depois ficarão mortos em praça pública por três dias e meio. Cada dia de suas mortes corresponde a um ano de suas vidas sobre a terra. Faz sentido, não faz?
POLIGAMIA CELESTIAL?


No velho Testamento a esposa de Jeová é o Israel [Israel = Povo judeu = a qualquer judeu], que depois de arrepender-se seria “restaurada”, Is 54.5.  Mas para João que teve a visão profética, a esposa do cordeiro é a Nova Jerusalém, Ap 21.2. Não vou entrar na questão se Jeová e Cristo é a mesma pessoa; porém, atendo-se apenas ao fato de Deus ou Cristo só poder ter uma esposa ou noiva, torna-se difícil não questionarmos essa estranha “relação” amorosa. Ainda temos os escritos do falso apóstolo Paulo que afirmou ser a “igreja” a noiva de Cristo [Ef 5.29-33], contrastando-se com as demais afirmações. Talvez esta afirmação de Paulo seja um dos motivos que levou João a criticar os falsos apóstolos: Ap 2.2.
E fazer confusão com os escritos judaicos é predileção dos cristãos, pois um dos pontos contraditórios entre os testamentos é que Israel aparece como [filho] “primogênito” de Deus no Antigo Testamento, Ex 4.22; e Jesus como Unigênito do Pai no Novo Testamento, Jo 3.16.
Mas voltando a questão das esposas, será que temos aqui uma nova trindade: Israel, Nova Jerusalém e a igreja? É claro que alguns teólogos afirmarão que a igreja faz parte do Israel espiritual de Deus e que ambos habitarão na cidade Santa, tornando-se uma única esposa; mas eles mesmos sabem também que a própria bíblia – bem como o livro de Revelação – faz distinção da igreja e do Israel em vários textos, confira: Ap. 7.4; 14. 1-2.
Os escritores da Bíblia tinham uma visão distorcida dos valores de uma mulher, pois no Velho Testamento vemos a esposa de Jeová sofrendo horrores: cativeiro, mortes, punições e repreensões; enquanto seu esposo Jeová permanecia intocável no Céu.  Já no Novo Testamento vemos a esposa de Cristo passando pelos mesmos horrores e repreensões – como as que são descritas nas cartas às sete igrejas; enquanto seu esposo desfruta do gozo celestial. Somando-se a isso, a outra noiva celestial – a intocável – é preparada no “céu” com ruas de ouro, cristais e pedras preciosas, aguardando o dia de receber as outras duas para poder descer do céu com todo o seu resplendor diante de todos os terráqueos.
Não sabemos se essa troca de esposa foi devido à rejeição de Israel pelo “Messias” [Cfr. Jo 1.11]. Porém acho que não foi tão boa assim, pois Jesus subiu aos céus e deixou a sua noiva na terra passando por sofrimentos milenares [Cfr. II Pe 3.8-14]. Talvez seja porque também ao chegar no céu tenha se apaixonado pela noiva celestial e tenha esquecido de buscar a outra aqui na terra!
Estou realmente usando de ironia, mas a minha intenção não é desqualificar o verdadeiro Yaohushua, e sim um “cristo” apresentado pelas diversas religiões cristãs cheio de contradições em seus atos!


CONCLUSÃO
De acordo com D. H. Lawrence, em seu ensaio sobre o Livro da Revelação – a narrativa do Apocalipse contém uma verdadeira “orgia de mistificação” e uso excessivo de palavras delirantes, as quais só atraíam cérebros de pessoas incultas, impressionadas por acontecimentos que fogem da realidade como: vingativos tribunais divinos e ameaças de feiticeiros fantasmas. (Apocalypse and the writings on Revelation – 1931)
É tão mágica e alucinante a narrativa que Thomas Jefferson, o terceiro presidente dos Estados Unidos, a chamou de “delírio de um maníaco”. Já o grande teatrólogo irlandês Bernard Shaw, disse que era o “inventário das visões de um drogado”.
Desde a década de 50 até o presente, temos tido pelo menos uma dúzia de filmes apocalípticos: Godzilla; Apocalypto; O Planeta dos Macacos; Matrix; O Bebê de Rosemary; Presságio e por aí vai! Eles sempre “revelam e destacam” algo de sua época. Há quem acredite – e isso parece mais viável – que o Livro do Apocalipse teria sido uma resposta às perseguições que os cristãos sofriam no Império Romano – e a besta, o Anticristo, o Satã seriam Nero, o imperador que tocou fogo em Roma. Porém a cada século que se passa, o Anticristo toma uma nova forma e “nasce” novamente, segundo as interpretações dos religiosos fanáticos que tentam por fim da força validar os delírios de João.
Agora transporte-se através da imaginação para a época em que foram enviadas essas “cartas” às sete igrejas e pergunte-se se aqueles cristãos decifraram pelo menos ¼ do que foi exposto aqui, segundo a inspiração dos teólogos. De quê adiantou enviar essas cartas àquelas igrejas se os seus fiéis não entenderam e nem presenciaram nada?
Creio que inúmeras interpretações ainda virão com o passar dos séculos, porém espero ter feito a minha parte para desfazer esse mito que as atuais igrejas cristãs têm feito questão de propagar.

REFERÊNCIAS 
GONDIM, Gilson Marques. Da Bíblia aos múltiplos universos: velhas e novas visões da eternidade. João Pessoa: Idéia, 2005.
Bíblia de Estudo Plenitude. Barueri – SP. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
Bíblia de Jerusalém – Nova edição revista, Junho de 1996.

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Fonte: http://andreafreitas.wordpress.com

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O prazer animal

Dois lêmures de cauda anelada -possivelmente um casal, possivelmente dois sujeitos curtindo o calor- estão reclinados lado a lado.

Suas barrigas brancas estão expostas, seus pés, largados, para garantir total exposição ao sol do Madagascar.
Para completar o quadro, eles só precisariam de charutos. Essa postura tem uma explicação evolutiva. Cientistas empregam "regulação térmica comportamental" para explicar como um animal conserva sua temperatura corporal central. Mas, como explica o especialista em comportamento animal Jonathan Balcombe em "The Exultant Ark" (a arca exultante), sobre o prazer dos animais, está claro que os lêmures também estão curtindo um prazer.
Como indica o subtítulo do livro, "um passeio pictórico pelo prazer animal", "The Exultant Ark" traz fotos surpreendentes, engraçadas, comoventes e tristes de fotógrafos de todo o mundo. O texto de Balcombe é um estudo sério sobre o tema do prazer dos animais. Para começar, o prazer é adaptativo: assim como "a dor desencoraja os animais de fazer coisas que resultem no risco de ferimentos ou morte, que não são resultados bons no processo evolutivo", ele escreve, o prazer "é a maneira usada pela natureza para aumentar as chances de sobrevivência e a produção reprodutiva".
Em segundo lugar, sabemos que o prazer existe em pelo menos uma espécie animal: a humana. Balcombe argumenta que os animais podem experimentar "formas de prazer inacessíveis aos humanos". O terceiro argumento é simples: que os animais são equipados para sentir prazer. Como sabemos que os animais sentem dor, por que não sentiriam prazer?
O sexo é um prazer que, nos humanos, tem alguns aspectos não ligados à procriação. Mas Balcombe demonstra que isso também se aplica ao mundo animal. Um exemplo especialmente sensual é o de um par de peixes-bois machos que se abraçam "com o pênis de cada um na boca do outro".
Os animais exibem comportamentos que aparentam ser de prazer e para os quais não existe explicação evolutiva. Já vimos gaivotas ou corvos que fazem mergulhos vertiginosos em direção ao chão, voltando a subir no último minuto. "Esse comportamento não tem função evidente para a sobrevivência", escreve Balcombe, "fato que me leva a indagar se eles não o fazem pela emoção da velocidade."
De vez em quando, Balcombe parece derivar para demasiado perto da suposição antropomórfica. Refletindo sobre uma foto de um filhote de águia-pesqueira, ele escreve: "Imagino que as sensações sejam semelhantes" às de um humano "que se lança de um ninho nas alturas", algo "emocionante e apavorante".
Em sua conclusão, Balcombe argumenta que a capacidade que um animal possui de sentir prazer é um fator importante a ser levado em conta na discussão dos direitos dos animais. "O fator decisivo real quando se analisa se um ser merece ou não respeito e compaixão é a capacidade de sentir", ele escreve.

Por Katherine Bouton

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Fonte: The New York Times, 01 de agosto de 2011

domingo, 14 de agosto de 2011

A construção do Deus bíblico

Deus bíblico pode ser fusão de vários deuses pagãos, dizem especialistas

Evidências apontam a história da formação da personagem divino-religiosa "Javé", o atual "Deus" judeu, cristão e mulçumano



"Personalidade e atributos de Javé são compartilhados com outras divindades do Oriente. Pai celestial El, jovem guerreiro Baal e até 'senhora' Asherah teriam sido influências."
Reinaldo José Lopes do G1, em São Paulo

A afirmação pode soar desrespeitosa para judeus ou cristãos, mas não está muito longe da verdade: Javé, o Deus do Antigo Testamento, parece ter múltiplas personalidades. Para ser mais exato, especialistas que estudam os textos bíblicos, lêem antigas inscrições encontradas nos arredores de Israel ou escavam sítios arqueólogicos estão reconhecendo a influência conjunta de diversos deuses pagãos antigos no retrato de Javé traçado pela Bíblia.
A idéia não é demonstrar que o Deus bíblico não passa de mais um personagem da mitologia. Os pesquisadores querem apenas entender como elementos comuns à cultura do antigo Oriente Próximo, e principalmente da região onde hoje ficam o estado de Israel, os territórios palestinos, o Líbano e a Síria, contribuíram para as idéias que os antigos israelitas tinham sobre os seres divinos. As conclusões ainda são preliminares, mas há bons indícios de que Javé é uma fusão entre um deus idoso e paternal e um jovem deus guerreiro, com pitadas de outras divindades – uma delas do sexo feminino.

O deus cananeu El, retratado como um pai sábio e idoso,
foi muito importante nos primórdios da religião israelita
O ponto de partida dessas análises é o fundo cultural comum entre o antigo povo de Israel e seus vizinhos e adversários, os cananeus (moradores da terra de Canaã, como era chamada a região entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo em tempos antigos). A Bíblia retrata os israelitas como um povo quase totalmente distinto dos cananeus, mas os dados arqueológicos revelam profundas semelhanças de língua, costumes e cultura material – a língua de Canaã, por exemplo, era só um dialeto um pouco diferente do hebraico bíblico.

Memórias  de Ugarit


Os cananeus não deixaram para trás uma herança literária tão rica quanto a Bíblia. No entanto, poucos quilômetros ao norte de Canaã, na atual Síria, ficava a cidade-Estado de Ugarit, cuja língua e cultura eram praticamente idênticas às de seus primos do sul. Ugarit foi destruída por invasores bárbaros em 1200 a.C., mas os arqueólogos recuperaram numerosas inscrições da cidade, nas quais dá para entrever uma mitologia que apresenta semelhanças (e diferenças) impressionantes com as narrativas da Bíblia. “Por isso, Ugarit é uma parte importante do fundo cultural que, mais tarde, daria origem às tribos de Israel”, resume Christine Hayes, professora de estudos clássicos judaicos da Universidade Yale (EUA). 
Uma das figuras mais proeminentes nesses textos é El – nome que quer dizer simplesmente “deus” nas antigas línguas da região, mas que também se refere a uma divindade específica, o patriarca, ou chefe de família, dos deuses. 
“Patriarca” é a palavra-chave: o El de Ugarit tem paralelos muito específicos com a figura de Deus durante o período patriarcal, retratado no livro do Gênesis e personificado pelos ancestrais dos israelitas: Abraão, Isaac e Jacó. Nesses textos da Bíblia há, por exemplo, referências a El Shadday (literalmente “El da Montanha”, embora a expressão normalmente seja traduzida como “Deus Todo-Poderoso”), El Elyon (“Deus Altíssimo”) e El Olam (“Deus Eterno”). O curioso é que, na mitologia ugarítica, El também é imaginado vivendo no alto de uma montanha e visto como um ancião 
sábio, de vida eterna. 
Tal como os patriarcas bíblicos, El é uma espécie de nômade, vivendo numa versão divina da tenda dos beduínos; e, mais importante ainda, El tem uma relação especial com os chefes dos clãs, tal como Abraão, Isaac e Jacó: eles os protege e lhes promete uma descendência numerosa. Ora, a maior parte do livro do Gênesis é o relato da amizade de Deus com os patriarcas israelitas, guiando suas migrações e fazendo a promessa solene de transformar a descendência deles num povo “mais numeroso que as estrelas do céu”.

Israel  ou “Israías”?

Outros dados, mais circunstanciais, traçam outros elos entre o Deus do Gênesis e El: num dos trechos 
aparentemente mais antigos do livro bíblico, Deus é chamado pelo epíteto poético de “Touro de Jacó” (frase às vezes traduzida como “Poderoso de Jacó”), enquanto a mitologia ugarítica compara El freqüentemente a um touro. 
Finalmente, o próprio nome do povo escolhido – Israel, originalmente dado como alcunha ao patriarca Jacó – carrega o elemento “-el”, lembra Airton José da Silva, professor de Antigo Testamento do Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP). 
“É o nome do deus cananeu, mais um indício de que Israel surge dentro de Canaã, por um processo gradual”, diz Silva. Ele argumenta que, se Javé fosse desde sempre a divindade dos israelitas, o nome desse povo seria “Israías”. Isso porque o elemento adaptado como “-ías” em português (algo como -yahu) era, em hebraico, uma forma contrata do nome “Javé”. Curiosamente, o elemento se torna dominante nos chamados nomes teofóricos (ligados a uma divindade) dados a israelitas no período da monarquia, a partir dos séculos 10 a.C. e 9 a.C. 
E esse nome (provavelmente Yahweh em hebraico; a sonoridade original foi obscurecida pelo costume de não pronunciar a palavra por respeito) é um enigma e tanto. As tradições bíblicas são um tanto contraditórias, mas pelo menos uma fonte das Escrituras afirma que Javé só deu a conhecer seu verdadeiro nome aos israelitas quando convocou Moisés para ser seu profeta e arrancar os descendentes de Jacó da escravidão no Egito. (A Moisés, Deus diz que apareceu a Abraão, Isaac e Jacó como “El Shadday”.) O problema é que ninguém sabe qual a origem de Javé, o qual nunca parece ter sido uma divindade cananéia, exatamente como diz o autor bíblico.

Senhor do deserto

A esmagadora maioria dos arqueólogos e historiadores modernos não coloca suas fichas no Êxodo maciço de 600 mil israelitas (sem contar mulheres e crianças) do Egito, por dois motivos: a semelhança entre Israel e os cananeus e a falta de qualquer indício direto da fuga. Mas muitos supõem que um pequeno componente dos grupos que se juntaram para formar a nação israelita tenha sido formado por adoradores de Javé, que acabaram popularizando o culto. Quem seriam esses primeiros javistas? Uma pista pode vir de alguns documentos egípcios, que os chamam de Shasu – algo como “nômades” ou “beduínos”.
“Duas ou três inscrições egípcias mencionam um lugar chamado 'Yhwh dos Shasu', o que, para alguns especialistas, parece ser 'Javé dos Shasu'. Talvez sim, talvez não. Não temos como saber ao certo”, diz Mark S. Smith, pesquisador da Universidade de Nova York e autor do livro “The Early History of God” (“A História Antiga de Deus”, ainda sem tradução para o português).
“É menos provável que o culto a Javé venha de dentro da Palestina e da Síria, e um pouco mais plausível que ele tenha se originado em certas regiões da Arábia”, diz Airton da Silva. Mark Smith lembra que algumas das passagens poéticas consideradas as mais antigas da Bíblia – nos livros dos Juízes e nos Salmos, por exemplo – referem-se ao “lar” de Javé em locais denominados “Teiman” ou “Paran”. Aparentemente, são áreas desérticas, apropriadas para a vida de nomadismo. “Muitos especialistas localizam essa região no que seria o noroeste da atual Arábia Saudita, ao sul da
antiga Judá [parte mais meridional dos territórios israelitas]”, diz Smith.

Guerreiro divino


Baal, retratado como guerreiro
(provavelmente a estatueta tinha uma lança
na mão), lembra Javé por causa de sua luta
contra monstros marinhos 
Seja como for, quando Javé entra em cena com seu “nome oficial” durante o Êxodo bíblico, a impressão que se tem é que ele já absorveu boa parte das características de um outro deus cananeu: Baal (literalmente “senhor”, “mestre” e, em certos contextos, até “marido”), um guerreiro jovem e impetuoso que acabou assumindo, na mitologia de Ugarit e da Fenícia (atual Líbano), o papel de
comando que era de El.
Indícios dessa nova “personalidade” de Deus surgem no fato de que, pela primeira vez na narrativa bíblica, Javé é visto como um guerreiro, destruindo os “carros de guerra e cavaleiros” do Faraó e, mais tarde, guiando as tribos de Israel à vitória durante a conquista da terra de Canaã. Tal como Baal, Javé é
descrita como “cavalgando as nuvens” e “trovejando”. E, mais importante ainda, uma série de textos bíblicos falam de Deus impondo sua vontade contra os mares impetuosos (como no caso do Mar Vermelho, em que as águas engolem o exército egípcio por ordem divina) ou derrotando monstros marinhos.
Há aí uma série de semelhanças com a mitologia cananéia sobre Baal, o qual derrotou em combate o deus-monstro marinho Yamm (o nome quer dizer simplesmente “mar” em hebraico) ou “o Rio” personificado. Na mitologia do Oriente Próximo, as águas marinhas eram vistas como símbolos do caos primitivo, e por isso tinham de ser derrotadas e domadas pelos deuses.
Javé também é associado à chuva e à fertilidade da terra pelos antigos autores bíblicos – atributos que aparecem entre as funções de Baal. Há, porém, uma diferença importante entre os dois deuses: outra narrativa de Ugarit fala do assassinato de Baal pelas mãos de Mot, o deus da morte, e da ressurreição do jovem guerreiro – provavelmente uma representação mítica do ciclo das estações do ano, essencial para a agricultura, já que Baal era um deus que abençoava a lavoura.
O lado guerreiro de Javé é talvez o mais difícil de aceitar para a sensibilidade moderna: quando os israelitas realizam a conquista da terra de Canaã, a ordem dada por Deus é de simplesmente exterminar todos os habitantes, e às vezes até os animais (embora, em alguns casos, os homens de Israel recebam permissão para transformar as mulheres do inimigo em concubinas).

Inscrição feita por ordem de Mesa,
rei de Moab (país vizinho do antigo
Israel): texto fala de genocídio
por ordem divina, tal como se
vê nos textos bíblicos

Textos de outra nação da área, os moabitas (habitantes de Moab, a leste do Jordão) ajudam a lançar luz sobre esse costume aparentemente bárbaro. Um monumento de pedra conhecido como a estela de Mesa (nome de um rei de Moab em meados do século 9 a.C.) fala, ironicamente, de uma guerra de Mesa
com Israel na qual o rei moabita, por ordem de seu deus, Chemosh, decreta o herem, ou “interdito”. E o herem nada mais é que a execução de todos os prisioneiros inimigos como um ato sagrado. Tratava-se, portanto, de um elemento cultural de toda a região.

Lado feminino

Se a “múltipla personalidade” de Javé pode ser basicamente descrita como uma combinação de El e Baal, há uma influência mais sutil, mas também perceptível, de um elemento feminino: a deusa da fertilidade Asherah, originalmente a esposa de Baal na mitologia cananéia. Normalmente, Deus se
comporta de forma masculina na Bíblia, e a linguagem utilizada para falar de sua relação com os israelitas é, muitas vezes, a de um marido (Deus) e a esposa (o povo de Israel). Mas o livro bíblico dos Provérbios, bem como alguns outras fontes israelitas, apresenta a figura da Sabedoria personificada, uma espécie de “auxiliar” ou “primeira criatura” de Deus que o teria auxiliado na obra da criação
do mundo.
Segundo o texto dos Provérbios, Deus “se deleita” com a Sabedoria e a usa para inspirar atos sábios nos seres humanos. Para muitos pesquisadores, a figura da Sabedoria incorpora aspectos da antiga Asherah na maneira como os antigos israelitas viam Deus, criando uma espécie de tensão: embora o próprio Deus não seja descrito como feminino, haveria uma complementaridade entre ele e sua principal auxiliar.

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Fonte: G1

sábado, 13 de agosto de 2011

Parábola do Homem Louco

Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: “Procuro Deus! Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi! Nós os matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para trás, para os lados, para frente, em todas as direções? Existem ainda ‘em cima’ e ‘embaixo’? Não vagamos como que através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não se tornou ele mais frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós os matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará esse sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma história mais elevada que toda a história até então!” Nesse momento silenciou o homem louco, e novamente olhou para seus ouvintes: também eles ficaram em silêncio, olhando espantados para ele. “Eu venho cedo demais”, disse então, “não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens. O corisco e o trovão precisam de tempo, a luz das estrelas precisa de tempo, os atos, mesmo depois de feitos, precisam de tempo para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes é mais distante que a mais longínqua constelação – e no entanto eles cometeram! – Conta-se também no mesmo dia o homem louco irrompeu em várias igrejas , e em cada uma entoou o seu Réquiem aeternaum deo. Levado para fora e interrogado, limitava-se a responder: “O que são ainda essas igrejas, se não os mausoléus e túmulos de Deus?”.

Aforisma 125 – Friederich Nietzsche - Gaia Ciência

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A Inquisição Protestante

– Artigo do Veritatis Splendor
Por d. Estêvão Bettencourt
Fonte: PR 500, fev/2004, pp. 50-62

Pouco se escreve a respeito:
A INQUISIÇÃO PROTESTANTE

Em síntese: Muito se tem escrito sobre a Inquisição da Igreja Católica, menos, porém, sobre a Inquisição movida por Calvino e os Calvinistas e pela rainha Isabel Tudor na Inglaterra. As páginas seguin­tes referem algo a respeito.
* * *
É muito comentada a Inquisição dirigida pela Igreja Católica na Idade Média e na época moderna em Espanha e Portugal. - Sem querer negar os erros cometidos, deve-se dizer que muitos falam e escrevem a respeito sem exato conhecimento de causa, movidos por preconceitos e paixões. Tal é o caso da notícia que vai, a seguir, transcrita (difundida via internet).

"'IGREJA CATÓLICA ROMANA', A ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA MAIS SANGUINÁRIA E FRAUDULENTA QUE O MUNDO JÁ CONHECEU"

Os grandes conhecedores da história asseveram que a Roma pa­pal derramou muito mais sangue que a Roma pagã. Quem quiser é só conferir os atos praticados pela Igreja Católica Romana durante a cha­mada 'Santa Inquisição'! Iniciada, em 1163 pelo papa Alexandre III, que no Concílio de Tours, na França, ordenou que o clero procurasse todos os opositores da idolatria romana para processá-los e levá-los a julga­mento.
Em 1253 o papa Inocêncio IV, autorizou a prática de todos os tipos de torturas contra os protestantes opositores aos ensinamentos antibíblicos da 'igreja' católica romana.

Inácio de Loiola foi um dos maiores assassinos que o sol já cobriu, mas foi canonizado 'santo' por tais serviços prestados a essa igreja cató­lica romana, que ainda hoje omite a verdade!

Pessoas que não concordavam com o grande comércio religioso e fraudulento da igreja católica romana, eram tidas como hereges. O papa Inocêncio IV convocou sacerdotes, reis e pessoas da sociedade a uni­rem-se em guerra a essas pessoas. Prometendo remissão de pecados a quem levasse um herege à morte, a autorização papal declarava que as pessoas seriam torturadas e mortas e suas propriedades confiscadas. A igreja católica romana, através dos reis, sacerdotes e autoridades civis e militares, usou os mais cruéis métodos de tortura para assassinarem os que não concordavam com suas mentiras religiosas. Famílias inteiras foram destruídas, filhos sendo assassinados diante dos pais, mulheres sendo estupradas e mortas diante de seus esposos, esposos que passa­vam dias e dias amarrados sob os piores castigos e depois dilacerados".
Abstração feita dos erros de português, este texto, violento como é, sugere algumas ponderações:
1) Afirma coisas graves sem indicar fonte alguma. Carece assim de seriedade e valor científicos.

2) O autor comete flagrante anacronismo ao afirmar que "em 1253 havia protestantes opositores à Igreja Católica. Na verdade, o protestan­tismo não existia no século XIII, já que foi fundado no século XVI.

3) A aplicação da tortura e da pena de morte era muito mais rara do que dá a entender o autor da notícia. Este apresenta cenas horrendas ("filhos assassinados diante dos pais, mulheres estupradas e mortas di­ante de seus esposos..."), cenas que a imaginação preconceituosa con­cebe, mas que a historiografia científica não abona, como se pode dedu­zir do Apêndice a este artigo.

4) S. Inácio de Loiola foi em juventude um cavaleiro que se dedicou a exercícios e torneios próprios da arte militar. Passou ao serviço do vice-rei de Navarra: combateu os franceses em defesa do castelo de Pamplona, onde foi ferido nas pernas por uma bala de canhão. Foi portanto um mi­litar militante, mas não um assassino.

5) Quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado do vizi­nho, diz o adágio popular. O protestantismo, que acusa a Igreja Católica, teve também sua Inquisição, da qual pouco se fala, mas que, a bem da verdade, merece ser conhecida. A respeito será dito algo nas páginas seguintes não pelo falso prazer de narrar desgraças, mas para mostrar que a Inquisição foi praticada também por aqueles que a lançam em rosto à Igreja Católica.

1. Em Genebra: João Calvino (1509-64)

Teólogo cristão francês.
Calvino teve uma influência
muito grande durante
a Reforma Protestante
Nasceu João Calvino em Noyon (França). Fez seus estudos humanísticos e jurídicos em Paris, onde teve contato com elementos protestantes. Em 1533 adotou o protestantismo numa "conversão repen­tina", como ele mesmo a designa. Visto que o governo francês perseguia os protestantes, Calvino emigrou para Basileia (Suíça) em 1534. Pas­sando certa vez por Genebra, foi convidado por Farei para aí ficar. Calvino aceitou o convite e recebeu o encargo de pregar e implantar em sua nova sede a doutrina protestante - missão esta que ele assumiu com grande energia, impondo severa disciplina a todos os cidadãos. Teve que en­frentar a resistência de vários opositores, mas firmemente venceu-os e governou Genebra.
O principal órgão administrativo de Calvino era o Consistório, com­posto por pregadores e anciãos, aos quais competia vigiar pela pureza da fé, inquirir os suspeitos de defecção e julgá-los. As consequências da atividade de tal instituição vêm assim descritas por Bihlmayer-Tuechle em sua "História da Igreja", vol. 3, pp. 74s:
"Com o objetivo de controle, faziam-se várias vezes no ano visitas a domicílio e conforme o caso recorria-se também às denúncias e à espi­onagem paga. Os transgressores eram colhidos pela admoestação, de-ploração e excomunhão (exclusão da ceia sagrada) e obrigados a fazer penitência pública. Os grandes pecadores, como os sacrílegos, os adúl­teros e os adversários obstinados da nova fé, eram entregues ao Conse­lho da cidade para o castigo. Foram pronunciadas muitas condenações à morte (58, até 1546) e mais ainda ao exílio. A tortura foi usada da forma mais rigorosa. A cidade teve que submeter-se, embora a contragosto, à disciplina férrea de Calvino. Todas as festas religiosas desapareceram, exceto os domingos. O culto foi reduzido à pregação, à oração e ao canto dos salmos; quatro vezes por ano era distribuída à comunidade a sagra­da ceia, com pão e vinho ordinário. A vida da sociedade genebrina adqui­riu o teor de uma seriedade taciturna; as vestes de luxo, os bailes, o jogo de cartas, o teatro e divertimentos semelhantes eram severamente con­denados.
Naturalmente a 'teocracia' instaurada por Calvino com tanta ha­bilidade e energia não persistia sem adversários. Os velhos fautores da liberdade (libertins) e a alegre aristocracia genebrina julgaram por demais opressor o jugo religioso; mas ele os reduziu ao silêncio medi­ante duras punições. Outras dificuldades foram suscitadas contra a sua teologia, mas soube dominá-las todas. O médico Jerônimo Bolsec, monge carmelita apóstata, proveniente de Paris, que ousara sublevar-se contra a doutrina de Calvino sobre a predestinação, foi exilado em 1551; o humanista e médico espanhol, Miguel Servet, que Calvino ti­nha denunciado antecedentemente à inquisição de Lião, foi queimado vivo em 27 de outubro de 1553, por ter negado o dogma da SS. Trindade1. Em 1555, Calvino havia conquistado a vitória sobre todos os seus inimigos. Nenhum pôde mais abalar-lhe a posição de ditador re­ligioso, e em certo sentido também político, na sua "Roma protestan­te", onde afluíam os emigrados protestantes da França, da Itália e da Inglaterra. Então as ordonnances foram atuadas plenamente e ao mesmo tempo aperfeiçoadas".

Eis alguns episódios particulares:

1) Ami Perrin

Ami Perrin era capitão-geral da cidade de Genebra e genro de Fran­cisco Favre, família importante, alegre e ciosa de sua autonomia naquela sociedade. Por ocasião de um casamento, tal família deu um baile. Sa­bedor disto, o Consistório abriu um inquérito e convocou dançarinos e dançarinas; estes compareceram perante a autoridade e deram dos fa­tos uma versão falsa, exceto Ami Perrin. Calvino então censurou, com veemência a dança, jurando punir os culpados. Furiosa, gritou-lhe: a mulher de Perrin, Franchequine:
"Homem perverso, queres beber o sangue da nossa família, mas sairás de Genebra antes de nós".
O litígio agitou a cidade inteira por muito tempo. Enquanto o capi­tão Perrin tentava apaziguar os ânimos, a sua esposa fazia o contrário, pois continuava a dançar. Chamada a comparecer novamente perante o Consistório, interpelou o ministro Abel Poupin como Gros pouacre (tra­tamento fortemente injurioso na linguagem da época), em consequência do que foi encarcerada. A opinião pública se abalou contra Calvino. Este, enraivecido, mandou fazer uma perquisição na casa de Jacques Gruet, amigo da família Favre; aí foram encontrados os rascunhos de um cartaz agressivo poucos dias antes afixado na cidade; em seus apontamentos íntimos Gruet escarnecia a Bíblia e o Cristianismo, em vista disto, Gruet foi logo preso, julgado e condenado a ser decapitado, ficando seu corpo exposto ao público aos 26 de julho de 1547.

2) Pierre Ameaux
Pierre Ameaux era fabricante de cartas de baralho. O rigor do puri-tanismo calvinista fazia-o perder clientes, pois a população tinha medo de jogar. Proferiu então injúrias públicas contra Calvino - o que lhe valeu ser preso e encarcerado. Aos 8 de abril de 1546 o tribunal pronunciou sobre ele a sentença: deveria dar a volta da cidade vestido de camisola, com a cabeça coberta e uma tocha acesa na mão; feito isto, haveria de comparecer perante o tribunal e de joelhos daria graças a Deus e à Jus­tiça, confessando ter falado indevidamente.
É de notar que Pierre Ameaux era membro do Conselho Menor e gozava do respeito da população.

3) Os papistas
Visando atingir qualquer indivíduo que ferisse a honra de Deus, o Consistório tinha funcionários inspecionando a cidade de Genebra e seus arredores. Cada qual devia semanalmente levar ao tribunal a relação dos feitos que julgasse merecedores de punição: jogo de damas ou simi­lar, refeição mais copiosa do que de costume, consumo de vinho num botequim, faltar às prédicas, ceder às "superstições papistas"...
Calvino, sentindo a repulsa da opinião pública, exclamou: "A raiva e a fúria contra mim chegaram a tal ponto que tudo o que digo suscita suspeitas. Ainda que eu afirmasse ser dia claro ao meio-dia, começariam logo a duvidar".
São estes alguns traços da Inquisição calvinista em Genebra. Ve­jamos agora:

2. Fora de Genebra: o Calvinismo

Passaremos em revista a Suíça e a Holanda.

1) Na Suíça
Na Suíça o Caivinismo absorveu as ideias e os seguidores do reformador Zvinglio de Zurique. Propagou-se destruindo monumentos artísticos dos católicos. Dentre os mártires seja citado São Fidelis de Sigmaringen (1577-1622). Este Santo foi advogado e muito trabalhou em favor dos pobres. Fez-se frade capuchinho e foi enviado para a região de Rezia, onde a população se tornara, em grande parte, calvinista. O êxito de sua pregação provocou a hostilidade dos calvinistas; estes, fingindo querer converter-se à fé católica, convidaram-no para pregar em Gruesch. Mal subira ao púlpito da igreja local, quando avistou um cartaz preso à parede com os dizeres: "Esta é a tua última predica".
Quando começou a pregar, foi contra ele desferido um tiro, que errou o alvo. Frei Fidelis conti­nuou intrépido e, ao terminar, dirigiu-se para a porta da igreja; ali cercou-o um bando de homens que o trucidaram a golpes de punhal e barras de ferro, chegando a amputar-lhe a perna esquerda.

2) Na Holanda
A Alemanha, fiel ao luteranismo, rejeitou o calvinismo, que passou então para a Holada com grande veemência. Escreve um historiador pro­testante:
"Os calvinistas (queux) eram os mais abomináveis piratas de todos os tempos... A sua cupidez era sem igual. Queriam fazer ressoar em toda parte o seu grito de guerra: 'A palavra de Deus segundo Calvino!'Saque­avam igrejas e conventos e infligiam aos Religiosos um trato tal que pou­cos paralelos se encontram na história dos povos" (Kervin de Lettenhove, Lês Huguenots et lês Gueux, tomo II Bruges, p. 408).
As igrejas católicas eram saqueadas e os sagrados valores profa­nados.
Ao ver um monge cartuxo sendo levado ao suplício, perguntou uma mulher: "Que mal fez esse homem?", respondeu o carrasco com furor: "É um monge, um papista".
Ao devastarem o mosteiro de Tene Rugge, os invasores encontra­ram um ancião que não conseguira fugir. Intimaram-no a exclamar: "Vi­vam os calvinistas!"; tendo-o recusado, foi condenado ao massacre; an­tes de lhe tirarem a vida, amputaram-lhe as orelhas, sendo uma afixada à porta da cidade, e a outra à porta da igreja.
Alguns dias mais tarde, prenderam e mataram o pároco Henrique Bogaart, de Hellevoetsluis, após ter-lhe amputado mãos e pés.
Caiu nas mãos dos algozes um sacerdote chamado Vicente, de 85 anos de idade; meteram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, e puse­ram-lhe no ombro uma cruz confeccionada às pressas, após o quê atre­laram o padre a uma carroça para que a puxasse; tendo assim tratado o ancião, deram-lhe o golpe mortal.
Em Brielle foram presos alguns clérigos e leigos; um daqueles - o cónego Bervout Hanszoon - recusou ceder alojamento à concubina de um dos carrascos, que era um católico apóstata; por causa disto mais candente se tornou a sanha dos adversários. Sem processo prévio, foi condenado à morte: atiraram-no num poço cheio de lama, onde perma­neceu algumas horas em luta contra a morte, que finalmente prevaleceu. Do mesmo modo foram executados três outros sacerdotes.
Em suma, ao invadirem a cidade de Brielle, os calvinistas decapita­ram ou queimaram vivos 84 sacerdotes; 19 outros morreram por ocasião da tortura.
Não se pode deixar de mencionar, à guisa de complemento, o mar­tírio dos católicos do Rio Grande do Norte por obra dos índios instigados pêlos calvinistas holandeses em 1645: o primeiro grupo, contando setenta pessoas aproximadamente, foi trucidado na capela da vila de Cunhaú. O segundo grupo em Uruaçu.
Por conseguinte não resta dúvida: o Calvinismo usou de violência cruel no trato com seus irmãos "papistas" (fiéis ao Papa).
Passemos ao Anglicanismo.

3. O Anglicanismo
O rei Henrique VIII em 1534 foi declarado pelo Parlamento, medi­ante o Ato de Supremacia, Chefe da Igreja na Inglaterra. Sob o seu su­cessor, Eduardo VI, foram redigidos 42 artigos, que expressavam a fé reformada anglicana. De 1558 a 1603 reinou a rainha Isabel l, que im­plantou decisivamente o protestantismo de fundo calvinista na Inglaterra, visando à total extinção da Igreja Católica.

3.1. Sob Isabel l: generalidades
Eis o que se lê na citada obra de Bihlmayer-Tuechle, pp. 270s:
«Os 42 artigos de Eduardo VI, reduzidos a 39, foram elevados à categoria de norma confessional (1563) da igreja nacional inglesa; a obri­gação de prestar o juramento de supremacia foi estendida a todos os membros da Câmara Baixa, aos mestres e aos procuradores públicos, enfim, a todas as pessoas suspeitas de adesão à antiga religião, às quais, em caso de recusa repetida, era cominada até a pena de morte. Numa primeira fase, é verdade, foram aplicadas somente penas consistentes na privação dos bens ou da liberdade, ainda que não raro, em medida realmente draconiana. Mais tarde, porém, quando Pio V (1570) fulminou Isabel com a excomunhão e a deposição desvinculando os súditos do juramento de fidelidade, foram emanadas novas e severíssimas leis e posto em atuação o patíbulo. Foi uma época tremendamente dolorosa para os fiéis católicos da Inglaterra, que, amaldiçoados e perseguidos como inimigos do Estado e réus de alta traição, envolvidos na hostilidade suscitada pelo contraste político entre a Espanha e Inglaterra, viram-se oprimidos pela dura crueldade de uma justiça sanguinária. Tiveram que pagar a caro preço as conjuras tramadas contra Isabel e as tramas urdi­das para a libertação da prisioneira Maria Stuart. Não é, pois, para se maravilhar que o seu número fosse continuamente diminuindo.
O perigo ameaçava sobretudo os sacerdotes; quem lhes dava hos­pitalidade era punido com a pena de morte. Para não deixar extinguir-se toda cura pastoral na Inglaterra, foi necessário providenciar à ereção de Institutos no exterior para a formação de padres. Guilherme Allen, cóne­go de Iorque e desde 1587 'cardeal da Inglaterra', fundou em 1568 em Douai um colégio inglês e o papa Gregório XIII erigiu outro em Roma em 1579. Numerosos jovens de ilustres famílias inglesas realizaram nestes colégios os seus estudos teológicos e mais tarde dirigiram-se secretamente como missionários para a Inglaterra, indo não raro ao encontro da morte certa. Uma das mais famosas vítimas da perseguição foi o douto jesuíta Edmundo Campion, ex-aluno de Douai, o qual foi executado com dois companheiros em 1581.
Quando Filipe II da Espanha, para vingar a morte de Maria Stuarí, tentou em vão conquistar a Inglaterra com a sua Armada, a perseguição encarniçou-se mais ainda; mais de cem pessoas caíram vítimas dela. Globalmente sofreram a morte pela sua fé 124 sacerdotes e 61 leigos. Numerosos fiéis de ambos os sexos definharam por longos anos em hor­ríveis masmorras. Aqueles que se abstinham do culto anglicano, 'os recusantes', foram colhidos por enormes penas pecuniárias. Sob o regi­me de coação religiosa da igreja nacional anglicana tiveram que sofrer não só os católicos, mas também os puritanos e os presbiterianos, os quais se opunham também ao ato de uniformidade (não conformistas, dissenters)».

3.2. Particularidades

1) Recusa do juramento
Quem recusasse prestar o juramento de supremacia, era punido como réu de alta traição; era colocado sobre uma grade e assim arrasta­do até o lugar do suplício; aí era estendido sobre um cepo; abriam-lhe o ventre, recortavam-lhe as entranhas em ritmo lento de modo a prolongar a agonia; a seguir, arrancavam-lhe o coração e o corpo era esquartejado, ficando as diversas partes expostas ao público. Em alguns casos o sen­so humanitário deixava que a morte ocorresse antes da operação final; mais frequentemente os mártires eram recortados ao vivo.
Em 1535 um monge cartuxo foi condenado a tal suplício juntamen­te com alguns companheiros; enquanto o monge era executado, os com­panheiros, aguardando sua vez, pregavam o Evangelho para quem esta­va assistindo.

2) São João Fisher
O cardeal John Fisher, quase octogenário, ficou por um ano encar­cerado na Torre de Londres. Foi condenado à morte por ter dito, em con­versa particular, que o rei não tinha autoridade sobre a Igreja. Por ser Cardeal, Henrique VIII lhe concedeu a graça de ser simplesmente deca­pitado sem outra pena. Em 1535 na manhã do suplício J. Fisher fez ques­tão de um asseio esmerado; provocou a surpresa do seu servidor, ao que respondeu o condenado: "Não vês que este é o meu dia de núpcias?". Ao partir para o suplício, leu dois versículos do Novo Testamento e rezou. Subiu com as próprias pernas até o patíbulo. Segundo o antigo costume, o carrasco se ajoelhou diante dele e pediu-lhe perdão, respondeu-lhe o Cardeal: "Eu te perdoo de todo o coração; tu me verás sair vitorioso deste mundo". Dirigiu-se à multidão que assistia, em tom de despedida; rezou ainda longamente e entregou a cabeça ao carrasco. Após a morte, esta foi exposta sobre a ponte de Londres. O corpo permaneceu no lugar do patíbulo, até que viessem soldados que o levaram, cavaram uma fossa e lá o depositaram.
Tomás Moro, Primeiro-Ministro do rei, teve morte semelhante em 1535.
Mais uma vez a história evidencia que os irmãos separados "inqui­riram" e maltrataram os fiéis católicos. Cometeram também eles o que acusam a Igreja de ter feito.
Além de Bihlmayer-Tuechle, foi utilizado, na confecção deste arti­go, o Dictionnaire Apologetique de Ia Foi Catholique, organizado por A. d'Alès, verbetes Reforme e Martyre.

APÊNDICE

A fim de possibilitar uma visão mais objetiva e fiel à realidade, vão, a seguir, propostos alguns aspectos da Inquisição católica geralmente silenciados pêlos manualistas.

1. O Inquisidor
Os historiadores que hoje consideram esse passado, tendem a julgá-lo através das categorias de pensamento modernas, exigindo dos antigos o que eles não sabiam nem podiam dar; não levam em conta os textos que exprimem o ardente amor pela verdade, pela justiça e pelo bem que animava os Inquisidores de modo geral. Eis, por exemplo, o espelho do Inquisidor redigido por Bernardo de Gui, um dos mais famo­sos Inquisidores no século XIV (1308-1328):
"O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verda­de religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias. Em meio às dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá à cólera nem â indignação. Deve ser intrépido, enfrentar o perigo até a morte; todavia não precipite as situações por causa da audácia irrefletida. Deve ser in­sensível aos rogos e às propostas daqueles que o querem aliciar; mas também não deve endurecer o seu coração a ponto de recusar adiamen­tos e abrandamentos das penas conforme as circunstâncias. Nos casos duvidosos, seja circunspecto, não dê fácil crédito ao que parece provável e muitas vezes não é verdade; também não rejeite obstinadamente a opinião contrária, pois o que parece improvável, frequentemente acaba por ser comprovado como verdade... O amor da verdade e a piedade, que devem residir no coração de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim de que suas decisões jamais possam parecer ditadas pela cupidez e a cru­eldade" (Prática Vi p... ed. Douis 232s).
Algo de semelhante se encontra sob a pena de outro célebre Inquisidor: Nicolau Eymeric O.P. - em seu Directorium (Parte III, ques­tão 1§, De conditione inquisitoris).
Para preservar e garantir tais predicados dos Inquisidores, a auto­ridade eclesiástica promulgava certas normas, acompanhando os proce­dimentos da Inquisição:
- garantias de idade: o Papa Clemente V, no Concílio de Viena (1311), seguindo preceitos de seus antecessores, dispôs que ninguém pudesse exercer as funções de Inquisidor antes dos 40 anos;
- garantias de honestidade: Alexandre IV (1255), Urbano IV (1262), Clemente IV (1265), Gregório X (1275), Nicolau IV (1290) insisti­ram nas qualidades morais, na honestidade e na pureza de costumes a ser exigidas dos Inquisidores;
- garantias de saber: também se declarava indispensável ao Inquisidor um bom conhecimento de Teologia e Direito Canónico.
A maneira como procediam os juizes era continuamente acompa­nhada e controlada, na medida em que isto era possível na Idade Média. Mais de uma vez, a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os excessos dos Inquisidores. É de notar, por exemplo, que o Papa Clemen­te V, no Concílio de Viena (1311), determinou fosse excomungado o Inquisidor que se aproveitasse das suas funções para fazer lucros ilícitos ou extorquir dos acusados quantias de dinheiro; para ser absolvido de tal pena, o Inquisidor deveria reparar os danos causados. Todo Inquisidor que abusasse comprovadamente do seu ministério, era sem demora de­posto do cargo, fosse pêlos Superiores de sua Ordem, fosse pêlos lega­dos papais, fosse diretamente pela Santa Sé. Os bispos eram obrigados, em consciência, a comunicar ao Papa todos os desmandos cometidos pêlos Inquisidores; o mesmo dever tocava aos notários e demais oficiais de justiça que acompanhavam o Inquisidor.

2. As penas e seu abrandamento
1. No tocante às penas infligidas a hereges e bruxas, não existe a documentação desejável, pois o registro de fatos outrora se fazia mais dificilmente do que hoje. Como quer que seja, temos ao nosso alcance alguns espécimens dos séculos XIII e XIV; assim, por exemplo:
De 1249 a 1258 em Carcassonne (França) a Inquisição proferiu 278 sentenças; a pena de prisão é relativamente rara; a mais frequente é a que manda prestar serviço na Terra Santa.
De 1308 a 1328 Bernardo de Gui em Tolosa exerceu com severida­de as suas funções: em dezoito Sermones Generales proferiu 929 sen­tenças assim distribuídas:
* Imposição da cruz: 132 vezes
* Peregrinação: 9 vezes
* Serviço na Terra Santa: 143 vezes
* Encarceramento platónico pronunciado sobre defunto: 17 vezes
* Entrega ao braço secular (pena de morte): 42 vezes
* Absolvição de defuntos: 3 vezes
* Exumação: 9 vezes
* Sentenças contra contumazes: 40 vezes
* Exposição no pelourinho: 2 vezes
* Degradação: 2 vezes
* Exílio: 1 vez
* Destruição da casa: 22 vezes
* Queima do Talmud: 1 vez
* Absolvição de prisioneiro: 139 vezes
Esta lista mostra que a entrega ao braço secular ou a pena de morte era relativamente rara.
De 1318 a 1324 em Pamiers (França), a Inquisição julgou 98 acu­sados: 5 foram entregues ao braço secular; 35 condenados ao cárcere; 2 absolvidos; a respeito dos demais nada consta; terão sido absolvidos?... exilados?... enviados para a Terra Santa? Como quer que seja, de 98 consta que apenas cinco sofreram a condenação capital.
2. É de notar ainda que muitos dos réus sentenciados podiam go­zar de indulto, que os dispensava total ou parcialmente da sua pena. Podiam também usufruir de licença para sair do cárcere e ir tirar férias em casa; em Carcassonne, por exemplo, aos 13 de setembro de 1250, o bispo deu a uma mulher chamada Alazais Sicrela permissão para sair do cárcere e ir aonde quisesse até a festa de Todos os Santos (1 - de novem­bro), ou seja, durante sete semanas. Licença semelhante foi dada por cinco semanas a um certo Guilherme Sabatier, de Capendu, na ocasião de Pentecostes (9/05/1251). Raimundo Volguir de VilIar-en-Val obteve uma licença que expirava no dia 20/05/1251, mas que lhe foi prorrogada até o dia 27. Outro caso é o de Pagane, viúva de Pons Arnaud de Preixan, que, encarcerada, obteve licença para férias de 15/06 a 15/08 de 1251.
Os prisioneiros tinham o direito de se afastar do cárcere para trata­mento de saúde por quanto tempo fosse necessário. São numerosos os casos de que se tem notícia: assim aos 16/04/1250, Bernard Raymond, de Conques, obteve a autorização para deixar a sua cela propter infirmitatem. Aos 9/08 seguintes, a mesma permissão era dada a Bernard Mourgues de ViHarzel-en-Razès, com a condição de que voltasse oito dias após obter a cura. A 14/05 a mesma concessão era feita a Armand Brunet de Couffoulens; e a 15/08 a Arnaud Miraud de Caunes. A 13/03/ 1252 Bernard Borrei foi posto em liberdade propter infirmitatem, deven­do voltar ao cárcere quinze dias após a cura. A 17/08 seguinte, Raine, filha de Adalbert de Couffoulens, foi autorizada a permanecer fora do cárcere quousque convaluerit de aegritudine sua (até que ficasse boa da sua doença)... A repetição de tais casos a intervalos breves, e às ve­zes no mesmo dia, mostra que não se tratava de exceções, mas de uma rotina bem definida.
3. Também havia autorização aos presos para ir cuidar de seus familiares em casa. Às vezes os problemas de família levavam os Inquisidores a comutar a pena de prisão por outra que permitisse atendi­mento à família. Até mesmo os mais severos praticavam tal gesto; sabe-se, por exemplo, que o rigoroso juiz Bernard de Caux em 1246 condenou à prisão perpétua um herege relapso, chamado Bernard Sabatier, mas, na própria sentença condenatória, observava que, o pai do réu sendo um bom católico, ancião e doente, o filho poderia ficar junto do pai enquanto este vivesse, afim de lhe dispensar tratamento.
4. Acontece também que as penas infligidas aos réus eram abran­dadas ou mesmo supressas: a 3/09/1252 P. Brice de Montreal obteve a troca da prisão por uma peregrinação à Terra Santa. Aos 27/06/1256 um réu que devia peregrinar à Terra Santa, recebeu em troca outra pena: pagaria 50 soldos de multa, pois não podia viajar propter senectutem (por causa da idade anciã). São conhecidos também os casos de indulto total: o Inquisidor Bernard Gui, em seu Manual apresenta a fórmula que se aplicava para agraciar plenamente o réu. O mesmo Bernard Gui reabi­litou um condenado para que pudesse exercer funções públicas; a um filho de condenado que cumprira a pena, reconheceu o direito de ocupar o consulado e exercer funções públicas.
5. A história também registra o fato de que os Inquisidores estavam atentos a distinguir falsas e verdadeiras acusações. Conta-se, por exem­plo, o caso, ocorrido em Pamiers (1324), de Pierre Peyre e Guilhaume Gautier: ambos colaboraram com Pierre de Gaillac, tabelião de Tarscon, numa campanha contra Guillem Trom; este também era tabelião e atraía a si a clientela, de modo que Pierre de Gaillac, querendo livrar-se dele, acusou-o de heresia perante a Inquisição, apoiado no falso testemunho de Pierre Peyre e Guillaume Gautier; estes dois cidadãos, comprova-damente tidos como falsários, foram condenados, e Guillem Trom reco­nhecido como inocente.
6. É certo, porém, que nem todos os Inquisidores tiveram a mesma elevação de espírito e a mesma retidão de consciência. Alguns se mos­traram obcecados na repressão à heresia, procedendo cruelmente. Os historiadores registram tais abusos, mas não costumam registrar as cen­suras que a Santa Sé infligiu aos oficiais imoderados ou indignos, sem­pre que ela teve notícia dos fatos; aliás, não somente ela, mas também os legados papais e os bispos se insurgiram contra os excessos dos Inquisidores; não eram raras as admoestações à prudência e à brandura emanadas das autoridades eclesiásticas para a orientação dos Inquisidores; estes deviam proceder com pureza de intenção (superando paixões, pressões e preconceitos) e com a virtude da discrição.

Consta também que os Papas mais de uma vez deram ordens aos Inquisidores para que usassem de brandura em casos precisos: Inocêncio IV, por exemplo, mandou aos Inquisidores Guillaume Durand e Pierre Raymond que absolvessem Guillaume Fort, cidadão de Pamiers; aos 247 12/1248 mandou soltar os hereges cuja punição lhe parecia suficiente; aos 5/08/1249, encarregou o bispo de Albi de restituir à comunhão da Igreja Jean Fenessa de Albi e sua esposa Arsinde, condenados pelo Inquisidor Ferrier.

Em 1305 o Inquisidor de Carcassone provocou, por seus rigores, a revolta da opinião pública: os habitantes de Carcassonne, Albi e Cordes dirigiram-se à Santa Sé. As suas queixas foram acolhidas pelo Papa Cle­mente V, que aos 13/03/1306 nomeou os Cardeais Pierre Taillefer de Ia Chapelle e Béranger Frédol para fazer um inquérito do que ocorria na região; enquanto este se processava e as prisões eram inspecionadas, estava suspensa toda perseguição de hereges. Os dois prelados inicia­ram a visita aos cárceres de Carcassonne nos últimos dias de abril; en­contraram aí quarenta prisioneiros que se queixavam dos carcereiros; estes foram logo substituídos por outros mais humanitários; aos detidos foram assinaladas celas recém-reformadas e foi permitido passear per carrerias muri largi ou em espaço mais amplo; os guardas receberam a ordem de entregar aos prisioneiros tudo o que fosse enviado pelo rei ou por seus amigos para a sua manutenção. Os dois Cardeais visitaram outrossim os cárceres de Albi aos 4/05/1306; mandaram retirar as cor­rentes que prendiam os encarcerados, designaram outros guardas, man­daram melhorar as condições sanitárias das prisões, abrindo janelas para a penetração da luz e do ar.
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Nota:

[1] A reviravolta religiosa de Lutero suscitou em alguns setores a contestação do dogma trínitário: assim fizeram os anabatistas e certos livres pensadores, entre os quais o médico espanhol Miguel Servet, que professava um panteísmo neoplatônico e aspi­rava à superação da doutrina protestante sobre a justificação (Nota do editor).
Todos os artigos disponíveis neste sítio são de livre cópia e difusão deste que sempre sejam citados a fonte e o(s) autor(es).
Para citar este artigo:
BETTENCOURT, d Estêvão. Apostolado Veritatis Splendor: A INQUISIÇÃO PROTESTANTE. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5120
2ª Parte – Artigo do Veritatis Splendor
Por Fátima Apologética
Tradução: Carlos Martins Nabeto
Fonte: http://www.fatima-apologetica.org/
Um ponto normalmente omitido é que os Protestantes também empreenderam uma Inquisição totalmente submissa ao Poder Político da época. Os historiadores geralmente se referem apenas à inquisição católica e se silenciam hipocritamente sobre os eventos ocorridos nos territórios protestantes.

Os primeiros protestantes não eram distingüidos por serem os "campeões da liberdade de opinião" como querem nos fazer crer. Eles, que clamavam pela liberdade religiosa nos países católicos, em seus territórios suspendiam rapidamente a celebração da Missa e obrigavam os cidadãos, por lei, a assistir obrigatoriamente os cultos reformados; também destruíam os templos católicos e as imagens [sagradas], além de assassinarem bispos, sacerdotes e religiosos; foram muito mais radicais em seus territórios do que ocorreu nos territórios católicos.

Citaremos apenas alguns exemplos (já que [quase] todas as fontes pesquisadas apenas se referem à inquisição católica e nenhuma a [inquisição] protestante):

- Registre-se o massacre dos monges da Abadia de São Bernardo de Brémen, no séc. XVI: os monges foram assassinados ou desfolados, atirando-lhes sal na carne viva, sendo a seguir pendurados no campanário por bandos protestantes.

- Seis monges cartuxos e o bispo de Rochester, na Inglaterra protestante, foram enforcados em 1535.
- Henrique VIII mandou queimar milhares de católicos e anabatistas no séc. XVI (mas foi sua filha católica, Maria, que acabou recebendo o título de "Maria, a sanguinária"!).

- João Servet, o descobridor da circulação do sangue, foi queimado em Genebra, por ordem de Calvino (porém, é comum se recordar apenas do "caso Galileu", o qual NÃO foi justiçado!).

- Quando Henrique VIII iniciou a perseguição protestante contra os católicos, existiam mais de 1.000 (mil) monges dominicanos na Irlanda, dos quais apenas 02 (DOIS) sobreviveram à perseguição.

- Na época da imperadora protestante Isabel, cerca de 800 (oitocentos) católicos eram assassinados por ano.

- O historiador protestante Henry Hallam afirma: "A tortura e a execução dos jesuítas no reinado de Isabel Tudor foram caracterizadas pela selvageria e o dano [físico]".

- Um ato do Parlamento inglês decretou, em 1652, que: "Cada sacerdote romano deve ser pendurado, decapitado e esquartejado; a seguir, deve ser queimado e sua cabeça exposta em um poste em local público".

- Na Alemanha luterana, os anabatistas eram cozidos em sacos e atirados nos rios.
- Na Escócia presbiteriana de John Fox, durante um período de seis anos, foram queimadas mais de 1.000 (mil) mulheres acusadas de feitiçaria.

- Nas cidades conquistadas pelo "Protestantismo", os católicos tinham que abandoná-las, deixando nelas todas as suas posses ou então converter-se ao Protestantismo; se fossem descobertos celebrando a Missa, eram apenados com a morte.

É um mito a afirmação de que a prática da tortura foi uma arma católica na Inquisição. Janssen, um escritor desse período, cita uma testemunha que afirma:
"O teólogo protestante Meyfart descreve a tortura que ele mesmo presenciou: 'Um espanhol e um italiano foram os que sofreram esta bestialidade e brutalidade. Nos países católicos não se condena um assassino, um incestuoso ou um adúltero a mais de uma hora de tortura. Porém, na Alemanha [protestante] a tortura é mantida por um dia e uma noite inteira; às vezes, até por dois dias (...); outras vezes, até por quatro dias e, após isto, é novamente iniciada (...) Esta é uma história exata e horrível, que não pude presenciar sem também me estremecer".

O mesmo Janssem nos fornece este outro dado:
"Em Augsburgo, na Alemanha, no ano 1528, cerca de 170 anabatistas de ambos os sexos foram aprisionados por ordem do Poder Público. Muitos deles foram queimados vivos; outros foram marcados com ferro em brasa nas bochechas ou suas línguas foram cortadas. [Ainda] em Augsburgo, no dia 18 de janeiro de 1537, o Conselho Municipal publicou um decreto em que se proibia o culto católico e se estabelecia o prazo de 8 dias para que os católicos abandonassem a cidade; ao término desse prazo, soldados passaram a perseguir os que não aceitaram a nova fé. Igrejas e mosteiros foram profanados, derrubando-lhes as imagens e os altares; o patrimônio artístico-cultural foi saqueado, queimado e destruído".
Frankfurt, também na Alemanha, emitiu uma lei semelhante e a total suspensão do culto católico foi estendida a todos os estados alemães (e depois se tacha a Igreja Católica de intransigente!).

Sacerdote agostiniano,
Lutero foi o professor
de teologia alemão
precursor da Reforma
Protestante
- Em 1530, em seus "Comentários ao Salmo 80", Lutero aconselhava aos governantes que aplicassem a pena de morte a todos os hereges.

- No distrito de Thorgau (Suiça), um missionário zwingliano, liderando um bando protestante, saqueou, massacrou e destruiu o mosteiro local, inclusive a sua biblioteca e o acervo artístico-cultural.

- Erasmo [de Roterdan] ficou aterrorizado ao ver fiéis piedosos excitados por seus pregadores protestantes: "[Eles] saem da igreja como possessos [do demônio], com a ira e a raiva pintadas no rosto, como guerreiros animados por um general". O mesmo Erasmo comenta em uma carta que escreveu para Pirkheimer: "Os ferreiros e operários arrancaram as pinturas das igrejas e lançaram insultos contra as imagens dos santos e até mesmo contra o crucifixo (...) Não restou nenhuma imagem nas igrejas nem nos mosteiros (...) Tudo o que podia ser queimado foi lançado ao fogo e o restante foi reduzido a cacos. Nada se salvou".

Assim, o Protestantismo destruiu parte do patrimônio cultural europeu, que era protegido e aumentado pelos monges e fiéis católicos.

- Na Zurique protestante, foi ordenada a retirada de todas as imagens religiosas, relíquias e enfeites das igrejas; até mesmo os órgãos foram supressos. A catedral ficou vazia como continua até hoje. Os católicos foram proibidos de ocupar cargos públicos; a assistência à Missa era castigada com uma multa na primeira vez e com penas mais severas nas reincidências.

- Em Leifein, no dia 4 de abril de 1525, 3.000 camponeses liderados por um ex-sacerdote [católico] tomaram a cidade, saquearam a igreja, assassinaram os católicos e realizaram sacrilégios sobre o altar, profanando os sacramentos de uma forma inenarrável.

- Um fato que pareceria nunca ter ocorrido - se não tivesse sido tão bem documentado - foi o "Saque de Roma". Até mesmo muitos católicos não sabem que tal fato aconteceu. O que foi o Saque de Roma?

O Saque de Roma foi um dos episódios mais sangrentos do Renascimento. No dia 6 de maio de 1527, os membros das legiões luteranas do exército imperial de Carlos V promoveram um levante e tomaram de assalto a cidade de Roma. Cerca de 18.000 lansquenetes foram lançadas durante semanas contra a pior das repressões, ocasionando um rio de sangue costumeiramente "esquecido" pelos historiadores, que não lhe prestam a devida atenção. Um texto veneziano [contemporâneo] afirma sobre este saque que: "o inferno não é nada quando comparado com a visão da Roma atual". Os soldados luteranos nomearam Lutero "papa de Roma".

Eis mais alguns fatos [desse episódio] que a história de alguns "eruditos" se omite covardemente:
- Todos os doentes do Hospital do Espírito Santo foram massacrados em seus leitos.

- Dos 55.000 habitantes de Roma, sobreviveram apenas 19.000.

- O resgate foi da ordem de 10 milhões de ducados (uma soma astronômica naquela época).

- Os palácios foram destruídos por tiros de canhões com os seus habitantes dentro.

- Os crânios dos Apóstolos São João e Santo André serviram para os jogos [esportivos] das tropas.

- O rio [Tibre] carregou centenas de cadáveres de religiosas, leigas e crianças violentadas (muitas com lanças incrustadas em seu sexo).

- As igrejas, inclusive a Basílica de São Pedro, foram convertidas em estábulos e missas profanas com prostitutas divertiam a soldadesca.

- Gregóribo afirma a respeito: "Alguns soldados embriagados colocaram ornamentos sacerdotais em um asno e obrigaram a um sacerdote a conferir-lhe a comunhão. O pobre sacerdote engoliu a forma e seus algozes o mataram mediante terríveis tormentos".

- Conta o Pe. Mexia: "Depois disso, sem diferenciar o sagrado e o profano, toda a cidade foi roubada e saqueada, inexistindo qualquer casa ou templo que não foi roubado ou algum homem que não foi preso e solto apenas após o resgate".

- Erasmo de Roterdan escreve sobre este episódio: "Roma não era apenas a fortaleza da religião cristã, a sustentadora dos espíritos nobres e o mais sereno refúgio das musas; era também a mãe de todos os povos. Isto porque, para muitos, Roma era a mais querida, a mais doce, a mais benfeitora do que até seus próprios países. Na verdade, o saque de Roma não foi apenas a queda desta cidade, mas também de todo o mundo".

Ninguém fala deste horror brevemente expresso nas linhas acima. Mas basta consultar qualquer livro honesto e transparente sobre a história documentada. O mundo se cala - como se cala ainda perante o assassinato silencioso de milhares de católicos por fundamentalistas muçulmanos, hindus, sikis etc, não excluindo os [assassinatos] ocasionados pelo totalitarismo de [Fidel] Castro, o genocídio de Pol-Pot e a pérfida perseguição [das autoridades da] China.

É [realmente] elegante falar mal da Igreja de Cristo, fundada por Ele mesmo e com dois mil anos de história humana, como se apenas os católicos fossem os geradores das notícias escandalosas, algumas vezes verdadeiras, mas outras vezes simplesmente inexistentes...
Vejamos agora a opinião dos "Grandes Reformadores Protestantes" sobre o emprego da violência:
[Iniciemos, observando que] uma das bases da Reforma Protestante - a [doutrina das] indulgências - foi mal interpretada pelos reformadores ou pelo povo que não tinha formação religiosa (basta fazer um estudo sincero e imparcial).

No ano de 1518, o Santo Padre o Papa Leão X emitiu uma Bula Pontifícia em que esclarecia [a doutrina das] indulgências e o seu uso. Nesta [bula] eram rejeitados muitos dos méritos que atribuíam [às indulgências]. As indulgências NÃO perdoavam os pecados nem as culpas, mas apenas as penitências terrenas que a Igreja (não um governante secular) havia imposto. Quanto a livrar as almas do Purgatório, o poder do Papa se limitava às oraçães em que suplicava a Deus que aplicasse à alma de certo defunto o excedente dos méritos de Cristo e dos Santos ("A Reforma na Alemanha", Will Durant).

De nada adiantou [tal bula], pois a Reforma seguiu o seu curso. A maneira de pensar dos Reformadores foi extremamente violenta e, muitas vezes, uma [verdadeira] apologia ao crime.
Com efeito, em 1520, vemos Lutero escrever em sua "Epitome":

"Se Roma assim crê e ensina, conforme os papas e cardeais, francamente declaro que o verdadeiro anticristo encontra-se entronizado no templo de Deus e governa em Roma (a empurpurada Babilônia), sendo a Cúria a sinagoga de Satanás (...) Se a fúria dos romanistas não cessar, não restará outro remédio senão os imperadores, reis e príncipes reunidos com forças e armas atacarem a essa praga mundial, resolvendo o assunto não mais com palavras, mas com a espada (...) Se castigamos os ladrões com a forca, os assaltantes com a espada, OS HEREGES COM A FOGUEIRA, por que não atacamos com armas, com maior razão, a esses mestres da perdição, a esses cardeais, a esses papas, a todo esse ápice da Sodoma romana, que tem perpetuamente corrompido a Igreja de Deus, lavando assim as nossas mãos em seu sangue?"

Em um folheto intitulado "Contra a Falsamente Chamada Ordem Espiritual do Papa e dos Bispos", de julho de 1522, disse:
"Seria melhor que se assassinassem todos os bispos e se arrasassem todas as fundações e claustros para que não se destruísse uma só alma, para não falar já de todas as almas perdidas para salvar os seus indignos fraudadores e idólatras. Que utilidade tem os que assim vivem na luxúria, alimentando-se com o suor e o sangue dos demais?"

Em seu folheto "Contra a Horda dos Camponeses que Roubam e Assassinam", Lutero dizia aos príncipes:
"Empunhai rapidamente a espada, pois um príncipe ou senhor deve lembrar neste caso que é ministro de Deus e servidor da Sua ira (Romanos 13) e que recebeu a espada para empregá-la contra tais homens (...) Se pode castigar e não o faz - mesmo que o castigo consista em tirar a vida e derramar sangue - é culpável de todos os assassinatos e todo o mal que esses homens cometerem".
Em julho de 1525, Lutero escrevia em sua "Carta Aberta sobre o Livro contra os Camponeses":
"Se acreditam que esta resposta é demasiadamente dura e que seu único fim e fazer-vos calar pela violência, respondo que isto é verdade. Um rebelde não merece ser contestado pela razão porque não a aceita. Aquele que não quer escutar a Palavra de Deus, que lhe fala com bondade, deve ouvir o algoz quando este chega com o seu machado (...) Não quero ouvir nem saber nada sobre misericórdia".

Sobre os judeus, assim dizia em suas famosas "Cartas sobre a Mesa":

"Quem puder que atire-lhes enxofre e alcatrão; se alguém puder lançá-los no fogo do inferno, tanto que melhor (...) E isto deve ser feito em honra de Nosso Senhor e do Cristianismo. Sejam suas casas despedaçadas e destruídas (...) Sejam-lhes confiscados seus livros de orações e talmudes, bem como toda a sua Bíblia. Proíba-se seus rabinos de ensinar, sob pena de morte, de agora em diante. E se tudo isso for pouco, que sejam expulsos do país como cães raivosos".

E a Igreja Católica é que é acusada de antisemitismo, classificando-se de "frouxas" as palavras de perdão do Papa [João Paulo II] em 2002... Algum representante da igreja luterana já pediu perdão aos judeus?

Willibald Pirkheimer afirmou, em 1529, sobre a Reforma:

“Não nego que no princípio todas as atitudes de Lutero não pareciam ser vãs, pois a nenhum homem comprazia todos aqueles erros e imposturas que foram graduamente acumulados no Cristianismo. Por isso eu esperava, junto com outros, que era possível aplicar algum remédio a tão grandes males; porém, fui cruelmente enganado, pois antes que se extirpassem os erros anteriores foram introduzidos muitos outros, mais intoleráveis que, comparados com os outros, faziam estes parecer jogos de crianças (...) As coisas chegaram a tal ponto que os defensores papistas parecem virtuosos quando comparados com os evangélicos (...) Lutero, com sua língua despudorada e incontrolável, deve ter enlouquecido ou ser inspirado por algum espírito maligno".

[Passemos agora para o] pensamento e a obra de outros pais da Reforma. Calvino também não foi um exemplo de caridade, como vemos em [sua Carta ao Duque de Somerset, protetor da Inglaterra durante a minoridade de Eduardo VI]:

"Pessoas que persistem nas superstições do anticristo romano (...) devem ser reprimidas pela espada [que lhe foi confiada]".

Em 1547, James Gruet se atreveu a publicar uma nota criticando Calvino e foi preso, torturado no potro duas vezes por dia durante um mês e, finalmente, sentenciado à morte por blasfêmia; seus pés foram pregados a uma estaca e sua cabeça foi cortada.

Os irmãos Comparet, em 1555, foram acusados de libertinagem e executados e esquartejados; seus restos mortais foram exibidos em diferentes partes de Genebra.

Melanchton, o teólogo da Reforma [luterana], aceitou ser o presidente da inquisição protestante que perseguiu os anabatistas. Como justificativa, disse: "Por que precisamos ter mais piedade com essas pessoas do que Deus?", convencido de que os anabatistas arderiam [no fogo] do inferno...

A inquisição luterana foi implantada com sede na Saxônia, com Melanchton como presidente. No final de 1530, apresentou um documento em que defendia o direito de repressão à espada contra os anabatistas; e Lutero acrescentou de próprio punho uma nota em que dizia: "Isto é de meu agrado".

Zwínglio, em 1525, começou a perseguir os anabatistas de Zurique. As penas iam desde o afogamento no lago ou em rios até a fogueira.
John Knox, pai do presbiteranismo, mandou queimar na fogueira cerca de 1.000 mulheres acusadas de bruxaria na Escócia.
Acerca da Reforma [Protestante], disse Rosseau:
"A Reforma foi intolerante desde o seu berço e os seus autores são contados entre os grandes repressores da Humanidade".
Em sua obra "Filosofia Positiva", escreveu:
"A intolerância do Protestantismo certamente não foi menor do que a do Catolicismo e, com certeza, mais reprovável".
A violência não foi exercida apenas contra os católicos; na verdade, os reformadores foram enormemente violentos entre eles mesmos, como percebemos nas opiniões que emitiram entre si:

- Lutero diz: "Ecolampaio, Calvino e outros hereges semelhantes possuem demônios sobre demônios, têm corações corrompidos e bocas mentirosas".
- Por ocasião da morte de Zwínglio (1531), Lutero afirmou: "Que bom que Zwínglio morreu em campo de batalha! A que classe de triunfo e a que bem Deus conduziu os seus negócios!", e também: "Zwínglio está morto e condenado por ser ladrão, rebelde e levar outros a seguir os seus erros".

- Zwínglio não ficou atrás e dizia acerca de Lutero: "O demônio apoderou-se de Lutero de tal modo que até nos faz crer que o possui por completo. Quando é visto entre os seus seguidores, parece realmente que uma legião [de demônios] o possui".
[A inquisição evangélica] suspendeu sistematicamente o Catolicismo nas áreas protestantes.
- Em Zurique, na Suiça, o comparecimento aos sermões católicos implicava em penas e castigos físicos. Mesmo fora do perímetro da cidade, era proibido aos sacerdotes celebrar a Missa e, sob a ordem de "severas penas", era proibido ao povo possuir imagens e quadros religiosos em suas casas.
- Ainda em Zurique, a Missa foi prescrita em 1525. A isto, seguiu-se a queima dos mosteiros e a destruição em massa dos templos [católicos]. Os bispos de Constança, Basiléia, Lausana e Genebra foram obrigados a abandonar suas cidades e o território. Um observador contemporâneo, Willian Farel, escreveu: "Ao sermão de João Calvino na antiga igreja de São Pedro seguiu-se desordens em que se destruíram imagens, quadros e tesouros antigos das igrejas" (ou seja: novamente uma parte do patrimônio histórico-cultural da Europa foi destruído, desta vez por instigação direta ou indireta de João Calvino).
- Strasburgo, 1529: o Conselho da Cidade ordenou a destruição dos altares, imagens e cruzes, além das igrejas e conventos. O mesmo ocorreu em Franckfurt. Na convenção de Hamburgo, em abril de 1535, os concílios dos povos de Lubeck, Brémen, Hamburgo, Luneburgo, Stralsund, Rostock e Wismar decidiram pelo enforcamento dos anabatistas e açoitamento dos católicos e zwinglianos.
- Na Escócia, John Knox, pai do presbiterianismo, proibiu a Missa sob pena de confisco de bens e açoites públicos. Ocorrendo a reincidência, a pena capital era aplicada ao infrator.
Poderíamos continuar falando, pois há muito material a respeito, porém, cremos que bastam estes exemplos para demonstrar que a Reforma Protestante não foi pacifista, nem foram os reformadores vítimas inocentes. A intolerância e a violência foram parte integrante de suas vidas. (...)

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Este texto não é de autoria do Palavras Humanas.